domingo, 12 de dezembro de 2010

A turnê mundial da pimenta

A turnê mundial da pimenta


By. BBC BRASIL

Porque arde, a pimenta criou em bela confusão. Culpa de Cristóvão Colombo.

Até o descobrimento das Américas, o nome em espanhol pimiento designava a pimenta-do-reino, fruto seco moído da trepadeira Piper nigrum.
E quando Colombo conheceu a fruta vermelha da planta Capsicum annum, que os indígenas na América Central cultivavam havia milhares de anos, resolveu dar-lhe, por ser ardida, justamente o mesmo nome genérico de pimiento.
Essa é a fruta que conhecemos hoje como pimenta, que tem dezenas de variedades ardidas (malagueta, comari, dedo-de-moça, murupi, scotch bonnet, etc), ou pimentão (que, aliás, é a única Capsicum que não produz capsaicina, o componente natural que dá a sensação de ardor no contato com as membranas mucosas).
E por isso temos hoje duas 'pimentas' distintas (a do reino e a Capsicum) entre os três ou quatro condimentos mais usados no mundo.
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Mas curioso mesmo é observar a trajetória pós-Colombo da pimenta Capsicum.
Das Américas (onde era cultivada do México ao norte da América do Sul) ela foi trazida para a Espanha, onde descobriram (nos monastérios, aparentemente) o seu potencial na culinária como excelente substituto para a pimenta-do-reino, então uma especiaria cara e importada.
Os navegadores espanhóis e portugueses levaram a Capsicum para a Ásia, por onde se espalhou e se transformou em um ingrediente popular e querido, do Paquistão às Filipinas.
As cozinhas tailandesa e indiana, por exemplo, seriam outra coisa não fosse essa pimenta – chamada em inglês de chilli pepper. O Sudeste Asiático e o sul da Ásia produzem e exportam hoje vários tipos de chilli peppers - lá no meu supermercado, por exemplo, a tailandesa é a mais comum.
Da Índia vem hoje a pimenta tida como a mais ardida do mundo. Aliás, o prato mais ardido que comi na minha vida foi justamente num restaurante indiano aqui em Londres. Fiz a besteira de pedir um prato descrito no cardápio como very hot, e veio um curry que, mesmo sendo macho pacas, eu não consegui encarar até o fim.
Da Ásia, via Oriente Médio, a pimenta se espalhou para a Turquia e a Hungria, que desenvolveram  variantes de pimenta em flocos ou em pó (mencionadas no post sobre o cilbir).
Na minha opinião, a pimenta turca em flocos, também conhecida como aleppo, de ardor moderado (há uma escala para isso, sabiam? a escala Scoville), vai conquistar o mundo. Ela já faz sucesso no Mediterrâneo e no Oriente Médio, e seu uso vem crescendo nos Estados Unidos. Ela é versátil, eu substituo pimenta-do-reino pela aleppo em vários pratos – até na pizza.    
Mas voltando à trajetória da pimenta, queria apontar para a teoria que diz que ela chegou à Índia trazida pelos navegadores portugueses – os mesmos que a trouxeram ao Brasil.  
Essa é boa, enfim, para contar numa roda, quando o assunto for pimenta: 500 anos antes da era da globalização, a pimenta ganhou o mundo, levada à Europa por Colombo e depois pelos portugueses à Índia.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Desastroso é melhor que muito ruim, não é???

Nível das escolas no Brasil passa ‘de desastroso a muito ruim‘, diz ‘Economist’


Brasil ficou em 53º lugar entre 65 países no último ranking do Pisa

Em edição publicada nesta quinta-feira, a revista britânica The Economist diz que dados recém-divulgados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostram que a educação brasileira teve “ganhos sólidos” na última década.

Ainda assim, a revista afirma que “o progresso recente meramente elevou o nível das escolas de desastroso para muito ruim”.
A Economist se referia à divulgação, na última terça-feira, do 4º Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), que mediu o nível da educação em 65 países. O Brasil ficou na 53º colocação, tendo obtido 412 pontos em leitura, 386 em matemática e 405 pontos em ciência.
O desempenho do país em cada uma das três áreas foi, em média, 20 pontos superior ao registrado no último teste, em 2006. O resultado fez com que a OCDE considerasse que o caso brasileiro revelava “lições encorajadoras”.
Em entrevista à Economist, a pesquisadora Barbara Bruns, do Banco Mundial, cita entre os motivos para a melhoria o sistema brasileiro de avaliação escolar, criado há 15 anos.
“De um ponto de partida em que não havia nenhuma informação sobre o aprendizado do estudante, as duas (últimas) presidências construíram um dos sistemas de medição de resultados educacionais mais impressionantes do mundo”, disse ela.
Apesar do avanço, a revista diz que dois terços dos jovens de 15 anos são incapazes de fazer qualquer coisa além de aritmética básica.
“Mesmo escolas privadas e pagas são medíocres. Seus pupilos vêm das casas mais ricas, mas eles se tornam jovens de 15 anos que não se saem melhor que um adolescente médio da OCDE”, afirma a publicação.
Segundo a Economist, uma das razões para a má qualidade do ensino é o desperdício de dinheiro. “Como os professores se aposentam com salários integrais após 25 anos para mulheres e 30 para homens, até a metade dos orçamentos da escola vai para as aposentadorias”, diz a revista.
A publicação afirma ainda que, exceto em poucos locais, professores podem faltar em 40 dos 200 dias escolares sem ter o salário descontado.
A Economist diz que o país estabeleceu a meta de alcançar a média da OCDE na próxima década, mas alerta que, “no ritmo atual, chegará só até a metade do caminho”.
A solução, aponta a revista, é propagar iniciativas como a da cidade do Rio (que combate a falta de professores dando pagando bônus às escolas que atingirem metas) e a do Estado de São Paulo (que criou plano de carreira a professores que vão bem em testes de conhecimento).
“Se o Brasil alcançar a nota, será porque conseguiu espalhar essas práticas inovadoras por todos os cantos”, conclui a revista.

By: BBC